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Elas Tramam

 

Dificilmente terminamos de fazer compras sem levar conosco uma sacola plástica. No entanto, não nos perguntamos sobre qual será seu destino após o fim do ciclo de uso. Para onde vão quando não servem mais a ninguém? Há doze anos, o momento de colocar os pés no mar se transformou para Zilah Garcia. Uma sacola a alcançou, revelando uma mensagem como as míticas garrafas que viajavam boiando pelas águas.

Desde então, a artista interveio no destino, recolhendo sacolas por onde passa e lhes dando uma vida nova, como a matéria-prima da obra que apresentamos na Casa Cor Rio de Janeiro. A instalação de grandes dimensões e a série de quadros são a parte final de um processo meticuloso que transforma as sacolas em fios para tramá-los à mão pacientemente. O trabalho deixou de ser solitário e passou a gerar renda para uma rede de mulheres que foram formadas por Zilah para colaborarem na produção.

“Elas tramam” transforma materiais descartados em superfícies de forte presença visual, resgatando a relação entre gesto, matéria e tempo que antecede a industrialização da arte. A origem plástica se dissolve e o que emerge são composições de padrões geométricos e de manchas mais livres e informais que remetem à aquarela e ao afresco, técnicas que a artista estudou durante anos na Itália e no Brasil.

Junto às cores, os desenhos, especialmente o da instalação, sugerem cartografias, zonas climáticas, mas também podem ser a paisagem de águas que se rebelam por termos feito delas um mar de resíduos. Zilah Garcia transforma o que invisibilizamos no cotidiano em arte têxtil sensível e política. O trançar das sacolas é também o trançar de vínculos: entre mulheres, entre territórios, entre nós — e o que escolhemos transformar.

 

Christiane Laclau

Curadora

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